- Jornal das Oficinas
Tendências-Chave continuarão a afirmar-se
Na última edição do estudo anual "Global Automotive Consumer", A consultora Deloitte tenta responder a uma série de questões críticas que estão a impactar o setor e reuniram algumas tendências que poderão ajudar as empresas desta indústria a evoluir e a enfrentar os desafios que o futuro reserva.


A rápida evolução tecnológica está a transformar a indústria automóvel e as mudanças vão muito além dos processos de produção e dos novos equipamentos. O próprio perfil do consumidor está a mudar rapidamente e a obrigar as empresas deste setor a rever as suas estratégias. A evolução deste setor não para, mas o impacto da guerra e da inflação pode conduzir a uma desaceleração. A tecnologia, as mais recentes tendências de consumo e o novo perfil de consumidor influenciam de forma determinante o ecossistema de mobilidade. Há muito que este ecossistema contempla muito mais que o tradicional automóvel. Em causa está a evolução da mobilidade, as cidades inteligentes, a conectividade, os transportes e todas as outras questões relacionadas com a circulação de pessoas e bens.
As principais conclusões do estudo da Deloitte incidem em quatro tendências-chave que continuarão a afirmar-se nos próximos anos:
1- A maioria dos consumidores não estão dispostos a pagar mais por tecnologia avançada.
2- O interesse por veículos elétricos continua a crescer. 3- Comprar presencialmente continua a ser o método de compra preferido dos consumidores. 4- Os veículos próprios continuam a ser o meio de transporte preferido.
O relatório é baseado num inquérito a mais de 26.000 consumidores de 25 países, realizado entre setembro e outubro de 2022, e explora vários temas da atualidade, tais como, a mobilidade partilhada, a sustentabilidade, a tecnologia e novos hábitos de compra numa realidade pós-pandémica. Apesar da mudança cultural ser um driver crucial, esta transformação obriga também a um investimento nos recursos, processos e sistemas necessários para antecipar e enfrentar as tendências disruptivas.
VE E COMPORTAMENTO DOS CONSUMIDORES
Sabemos que a mobilidade elétrica é, hoje em dia, uma realidade. A necessidade de superar as alterações climáticas é urgente e os governos sentem, cada vez mais, que é necessário lançar medidas agressivas para encorajar fabricantes e consumidores a adotarem novas tecnologias mais sustentáveis, como por exemplo os veículos elétricos (VE).
Os principais fabricantes de VE têm conseguido responder às expectativas e satisfazer consumidores, no entanto, esta realidade é diferente por geografia. Por exemplo, em Itália, 69% dos inquiridos planeia comprar um VE nos próximos três anos, já nos Estados Unidos só 26% dos inquiridos é que tem essa pretensão.
Desde a última vez que a Deloitte apresentou uma previsão de vendas de veículos elétricos (VE), em janeiro de 2019, o mercado tem dado grandes passos. Os OEMs (Original Equipment Manufacturers) investiram biliões para fornecer novos modelos elétricos, desde a investigação até à reestruturação das fábricas. O comportamento do consumidor alterou-se e as intervenções dos governos avançaram e recuaram. Mas o COVID-19 interrompeu completamente as vendas globais e as fábricas. Neste contexto, uma previsão revista com base em dados atualizados é necessária.
Examinando o estado atual do mercado de VE no mundo e observando os muitos fatores que promovem o crescimento em várias direções, tiramos conclusões sobre como o mercado se irá comportar nesta década. O crescimento significativo de VE até 2030 irá apresentar grandes oportunidades e desafios para os fabricantes de equipamentos ori- ginais (OEM) tradicionais, OEMs novos, empresas financeiras e concessionários. Para aproveitar oportunidades e gerir risco é fundamental adotar uma nova abordagem de segmentação de mercado.

CARROS ELÉTRICOS: CONFIANÇA PRECISA-SE!
O futuro dos veículos elétricos parece bastante sólido a longo prazo, mas para já existem ainda alguns obstáculos que se não forem resolvidos podem travar a evolução deste mercado. A confiança, acessibilidade e familiaridade com estes veículos são os pontos mais vulneráveis neste momento. O estudo da Deloitte mostra que a intenção de compra de um veículo a gasolina ou a gasóleo voltou a aumentar, com os consumidores a privilegiarem o conforto de uma tecnologia acessível e com provas dadas num período de maior incerteza.
Por que não um elétrico? A ansiedade causada pela fraca autonomia e a falta de infra-estruturas de carregamento são os principais travões enumerados pelos consumidores na maior parte dos países. A segurança deste tipo de automóvel é outro obstáculo, nomeadamente face à possibilidade de serem alvo de ciberataques e controlados por terceiros.
PRESSÃO FINANCEIRA COMPROMETE RECUPERAÇÃO DO SETOR?
A percentagem de consumidores mais jovens na Europa que solicitaram um adiamento do pagamento do seu veículo aumentou no último ano e é muito superior à dos consumidores mais velhos. Os problemas económicos criados ou agravados pela pandemia, a guerra e a inflação estão a pressionar financeiramente os consumidores mais jovens e a colocar em causa a recuperação sustentada da procura neste setor. Como resultado das dificuldades económicas sentidas pela população, muitos consumidores adiam a compra do seu próximo veículo por tempo indefinido. Admitem ainda comprar um veículo mais barato que aquele inicialmente pretendido e assumem estar à espera de opções mais acessíveis.
COMPRA DE VEÍCULOS ONLINE? AINDA NÃO
A compra de um veículo online pode afirmar-se como uma forte tendência, mas apenas dentro de alguns anos. Para já, os consumidores continuam a preferir comprar o novo veículo num concessionário autorizado, mesmo que isso implique mais tempo de espera. Entre as várias razões está o facto de todo o processo de compra ser ainda muito complexo num domínio totalmente digital, e de toda a experiência de compra presencial ser muito valorizada – as pessoas querem ver, tocar e conduzir o veículo.
A EMPRESA DE TRANSPORTES DO FUTURO


TRANSFORMAÇÕES NO SETOR DOS TRANSPORTES
A profunda transformação que o setor dos transportes está a sofrer e vai mudar drasticamente as prioridades das empresas que nele operam. Para sobreviverem ao novo ecossistema de mobilidade, têm de apostar em sistemas de transporte integrados e ajustar a nova visão de futuro às suas operações comerciais e força de trabalho. Como? Através de uma aposta nos dados, de abordagens ágeis à resolução de problemas, de uma estratégia centrada no cliente e de um foco permanente na inovação e nos resultados.
As empresas das designadas indústrias tradicionais têm necessariamente de enfrentar mais desafios para se integrarem num mundo globalizado, em plena era digital. É o caso das empresas de transportes, empresas que possuem tipicamente processos e procedimentos enraizados, mas que têm agora de gerir uma infraestrutura que está em permanente evolução, e competir num novo ecossistema de mobilidade que transformou por completo todo o negócio.
Toda a cadeia de valor deste setor mudou. Como é que estas empresas podem tornar-se mais resilientes, adaptáveis e inovadoras? A mudança mais importante é também uma das mais difíceis – a cultural ou de mentalidade.
Estas empresas têm de deixar para trás os modelos de negócio centrados numa estratégia individualista e totalitária se quiserem sobreviver num ecossistema de mobilidade onde os intervenientes públicos e privados se coordenam para alcançarem melhores resultados. Esta mudança cultural é crucial e deve começar no topo da organização.
O impacto desta transformação vai ser sentido de diferentes formas pelas empresas de transportes - dependendo da geografia, demografia dos viajantes, fontes de financiamento, entre outros fatores. Mas as regras são as mesmas: quanto mais proactivas forem, e mais cedo se conseguirem adaptar e posicionar na linha da frente, maior será a probabilidade de sucesso. Se optarem por apenas reagir, os obstáculos podem assumir outras proporções.
A Deloitte identificou cinco grandes áreas de transformação que vão obrigar as empresas de transportes a revolucionar o seu negócio:
SOCIAL – As empresas têm de acompanhar as novas tendências de consumo. As pessoas procuram opções de transporte dinâmicas e fiáveis, privilegiam a disponibilidade, a rapidez e a comodidade, e querem serviços digitais completos, mas simples. Muitas empresas já começaram a redirecionar o seu foco para o cliente e a combinar novos recursos e tecnologias para garantir a melhor experiência de utilização possível. O trunfo é reavaliar continuamente as prioridades para assegurar que os serviços oferecidos corres- pondem às necessidades reais e refletem as mudanças sociais.
TECNOLÓGICO – As transformações tecnológicas podem não parecer as mais urgentes, mas são aquelas que irão impactar de forma mais profunda este setor se não forem corretamente endereçadas. Mobilidade partilhada, veículos aéreos, elétricos, autónomos, não tripulados, conectados... As empresas mais inovadoras já fazem uso da IoT para obterem dados em tempo-real que permitem otimizar a gestão do seu negócio. Mas muitas vão ter dificuldade em atualizarem os seus sistemas e garantirem todas as competências necessárias para aproveitarem ao máximo as vantagens que as mais recentes tecnologias digitais podem oferecer, desde a cloud à analítica avançada. Os dados devem estar na base de todas as decisões.
ECONÓMICO - À medida que os custos aumentam, as infra-estruturas envelhecem e as fontes tradicionais de receitas diminuem, as empresas devem estar preparadas para estabelecer parcerias e explorar outras opções que possam gerar novas receitas para colmatar a crescente falta de financiamento. Algumas empresas estão a explorar fontes de receitas alternativas, como taxas de congestionamento, taxas de utilização baseadas na quilometragem, impostos sobre o carbono e monitorização de dados. Outras seguem parcerias público-privadas para oferta e financiamento de projetos de transporte.
AMBIENTAL – A expectável redução da poluição e de outros efeitos negativos tem um forte impacto sobre o setor. Pede-se às empresas de transporte que atenuem as emissões, reduzam a utilização de veículos de ocupação única e adaptem as suas infra-estruturas aos efeitos das alterações climáticas. Estas regras podem criar novas oportunidades de negócio. As empresas de transportes da Califórnia estão a alterar os seus processos e a considerar novas técnicas de gestão da procura e programas de incentivo à mobilidade partilhada.
GOVERNAMENTAL - Os governos utilizam cada vez mais a tecnologia para aumentar a participação cívica e alavancar a especialização descentralizada para a reinvenção dos serviços centrais. A curto prazo, as empresas podem implementar o crowdsourcing e a economia comportamental (“nudging”) para avaliar e captar as preferências e perceções geracionais. Devem, ainda, considerar o investimento em regulamentação inteligente e respostas políticas que acompanhem as inovações da indústria.
